Muito real e pertinente a reflexão do delegado Jorge B Pontes no artigo denominado: "Bruxas e charlatães à solta na pandemia" que reproduzo abaixo e recomendo a leitura.
Bruxas e charlatães à solta na pandemia
Quase tão terrível como a própria epidemia do covid-19, está sendo a revelação de que somos um país de bruxos, falsos profetas, curandeiros místicos, videntes apocalípticos e analistas de cenários geopolíticos catastróficos, todos aparentemente fugidos de um manicômio.
O curioso é que, quanto mais apedeutas, quanto menos ilustrados cientificamente, mais opinam essas pessoas. Definitivamente as redes sociais abriram as portas do hospício...
Essa gente desvairada, talvez em razão do ócio do isolamento, brotou de todos os lados na crise, sempre com um celular nas mãos e contas ativas no Facebook e Instagram, disparando - ou repassando frenética e automaticamente - posts estapafúrdios, para centenas de grupos de WhatsApp.
Essa usina de fake news é de fato um dos piores efeitos colaterais que a crise poderia nos apresentar.
Esses posts, que invariavelmente desfilam textos apócrifos e conspiracionistas, como o da influência do 5G da China sobre o vírus, o da trama do partido comunista chinês para dominar o mundo, o de médicos matando pacientes no Rio e atestando falsamente como mortes pelo covid-19, só fazem aumentar a tensão e encher de besteiras as nossas caixas de mensagens.
Nesse horizonte febril, só está faltando atribuir o coronavírus a alguma influência extraterrestre.
E a ladainha da polarização política, que já precedia à crise do covid-19, para variar também divide a ala da bruxaria ideológica em dois grandes grupos antagônicos. Enfim, também não é possível assinalar qualquer consenso nem convergência nesse ambiente de desatino emocional. Estamos divididos até na loucura!
Se Nelson Rodrigues fosse vivo, diria que hoje o brasileiro não bebe um copo d’água da bica, sem um gesto ou uma pose ideológica.
Dilemas da epidemia, como o uso da cloroquina, imunização de rebanho ou adoção de isolamento social, são discutidos com o viés da polarização ideológica. O que dizem os cientistas e os pesquisadores é o de menos para a turma que passa os dias espumando nas redes sociais.
Mas antes de serem loucos, essa gente é, sobretudo, chata e inconveniente. Não se conformam apenas em espalhar seus desatinos, mas insistem em convencer a todos de suas teorias, e o fazem nos bombardeando como numa blitzkrieg de absurdos. São de uma toxidade tão deletéria quanto o próprio problema da epidemia.
Merece registro, como piada, o fato de pessoas que conhecidamente nunca (ou quase nunca) trabalharam, estarem à frente de movimentos de “retorno maciço ao trabalho”. Era só o que faltava!
Para elas só há duas soluções: bloquear nas redes ou ignorar solenemente.
Jorge B Pontes é Delegado de Polícia Federal desde 1995. Cursou Direito na UERJ; é formado pela Academia Nacional do FBI em 1994, Quantico/Virgínia-USA; tem pós-Graduação em Justiça Criminal pela Universidade de Virginia/USA; tem curso de Inteligência Policial pela National Police Agency Japan/Tóquio/Japão; cursou Gerenciamento Avançado para Policiais na Academia Internacional de Policia, Roswell/Novo México – USA; tem o Curso de Altos Estudos de Política e Estratégica da Escola Superior de Guerra – ESG; tem MBA em Planejamento e Gestão Estratégica pela Fundação Getulio Vargas – FGV.
Foi superintendente da PF em Pernambuco, Coordenador Geral da Interpol, Adido da PF em Paris e membro eleito do Comitê Executivo da Interpol em Lyon para o triênio 2008-2011.
Foi o idealizador e autor da proposta de criação e responsável pela implantação das unidades de repressão aos crimes ambientais na PF.
Foi consultor especial para a série da NETFLIX “O mecanismo” dirigida pelo cineasta Jose Padilha.
Publicou, em co-autoria como delegado federal Marcio Anselmo, o livro “CRIME.GOV – QUANDO CORRUPÇÃO E GOVERNO SE MISTURAM, com o selo da Editora Objetiva.
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